quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Theodora, a exilada




Theodora foi exilada do que mais gostava no firmamento, e tudo que queria era voltar pro lar.

Rever suas plantas, seus livros, os amigos, o marido e curvar-se mais uma vez diante daquele Cristo Redentor que abençoava janela adentro o seus dias de deleite.

Sérias questões diplomáticas lhe separavam de seu éden e não tinha ideia do que fazer com todo aquele "tempo livre” que brotou do pior castigo que já lhe fora imposto.

Pensou que estudar seria uma forma de - ver o tempo passar com dignidade - e de repente a epifania: queria que o tempo passasse.

Lembrou dos entretenimentos graciosos – passeios, livros, conversas, vinhos, etc - e até mesmo daqueles de quinta categoria – tv, novela, fofocas, etc - que faziam a alegoria dos dias de pré-apartheid. Sentiu saudade deles mas não conseguiu deixar de pensar, neste momento em que a vida não lhe deixava mais nenhuma delicadeza, em quanto tempo jogou pro alto certamente na esperança de que dias melhores que aqueles chegassem.

Qual seria afinal o sentido de tantos cremes na penteadeira, pacotes de 1 ano devidamente pagos (em janeiro) na academia, semanais idas ao salão de beleza e visitas obsessivas ao cirurgião plástico se Theodora queria mesmo era que o tempo passasse?

A avó sempre dizia que tal programa de tv era bom porque “enterte a gente”. Entretenimento. Distração. Passatempo. Vocábulos que sempre lhe soaram muito estranhos.

Oscar Niemeyer disse: “a vida é um sopro”.

E agora, como viver com mais essa dicotomia?

O exílio lhe fez filósofa. Pensou e repensou tudo na vida. Quis afastar-se das coisas que lhe dis-traiam e sentir cada faceta da angústia que era estar separada do que era uma outra parte de si, talvez a melhor parte de si.

Qual aspecto de nosso ser nos impede de congelar o tempo agora mesmo e desenhar uma vida de significado, uma vida que queiramos olha-la nos olhos e não nos furtar dela?

Acordar: do latim, abrir os olhos pro mundo e pra alma – falseou Theodora aos seus quando resolveu resignificar o despertar. A partir deste episódio castrou os dias rasos lembrando-se do que diziam os antigos: todo dia é dia de iniciação.

Foto: Veneza, julho de 2011; Créditos: Melina.

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